Sindicatos precisam mudar atuação se quiserem derrotar o trabalho precário
Em participação no Fórum Social Mundial, o secretário-geral do IndustriALL, sindicato global da indústria, o brasileiro Valter Sanches, defende organização e negociação coletiva
Escrito por: Redação RBA • Publicado em: 15/03/2018 - 17:13 Escrito por: Redação RBA Publicado em: 15/03/2018 - 17:13RBA "Temos de fazer o que o sindicato faz melhor: organizar, formar e negociar", diz Sanches
O movimento sindical precisa se libertar da "prisão" do atual modelo que se baseia em ramos de atividade e adotar "uma visão mais geral de classe trabalhadora", se quiser ter sucesso no embate contra as transformações da economia mundial, defendeu hoje (14) o secretário-geral do IndustriALL, o brasileiro Valter Sanches. O líder da entidade que representa 50 milhões de trabalhadores no setor industrial, em 140 países, é defensor de um nova estratégia de atuação, em um momento de intensa reestruturação produtiva. Um debate que não é novo, conforme ele lembrou durante o Fórum Social Mundial, em Salvador. "A diferença é a extrema concentração de renda que ela (reestruturação) traz consigo", diz Sanches, lembrando que dos 10 mais ricos do mundo, "seis são da nova economia digital, porque eles estão se apropriando de todo esse processo".
Um processo de riscos e oportunidades, em um momento de "transição de empregos", como define o dirigente sindical. "Temos vários desafios, mas sobretudo, temos de fazer o que o sindicato faz melhor: organizar, formar e negociar. Se ele conseguir mudar o pensamento daquela prisão que tem de ramo de atividade para uma visão mais geral de classe trabalhadora, que qualquer trabalhador precário precisa ser organizado para ter mais força e negociar de forma altiva, vamos ter sucesso. Se nos mantivermos nesta mesma forma de organização, vamos continuar sendo derrotados e assistir ao aumento do trabalho precário e a concentração de renda no planeta."
Durante uma das mesas, Sanches afirmou que "60% do trabalho que é feito hoje pode de alguma forma ser automatizada, total ou parcialmente", e por isso o desemprego é uma realidade", além do aumento da precarização. Mas ele observou que as mudanças na economia abrem outras possibilidades. "A mineração de carvão é uma coisa decadente, é poluente, o trabalho é precário, inseguro, gera muita emissão de gás carbônico, portanto está sendo banido dos países. Porém, a exploração de minerais raros, zinco, cobalto, níquel, lítio, está em alta", exemplificou, sem deixar de observar que, mais uma vez, o problema está na concentração empresarial.
Também participaram da mesa sobre transformações no mundo do trabalho o secretário-geral da Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas (CSA), Victor Baez, e o economista e professor Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo.