RS: Empresas de calçados demitem mais de 3 mil e culpam pandemia do Coronavírus
“Alguém acredita que as demissões são por causa do vírus? É lucro e apenas lucro que interessa”, afirma o sapateiro e diretor financeiro da CUT Rio Grande do Sul, Antônio Güntzel
Escrito por: Redação CUT RS • Publicado em: 15/04/2020 - 17:45 Escrito por: Redação CUT RS Publicado em: 15/04/2020 - 17:45Reprodução CUT
Aproveitando as brechas abertas na legislação trabalhista pela Medida Provisória (MP) nº 936, empresas do ramo calçadista no Rio Grande do Sul demitiram mais de 3 mil demissões de trabalhadores até o começo de abril, ao mesmo tempo em que cortaram mais de 11 mil empregos em âmbito nacional, conforme dados divulgados recentemente pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
A alegação do empresariado do setor é a paralisação da atividade econômica brasileira em decorrência da pandemia do coronavírus. Na Região Metropolitana e no Vale dos Sinos, a Beiro-Rio Calçados, empresa que possui mais 16 unidades no território gaúcho, foi a que mais demitiu, contabiliza 1.500 dispensas em menos de um mês.
“A responsabilidade social passa longe da maioria dos grandes empresários do setor calçadista. Para eles, é lucro acima de tudo. Não importam o ser humano e as famílias que estão sendo jogadas ao desemprego. Alguém acredita que as demissões são por causa do vírus? É lucro e apenas lucro que interessa”, afirma o sapateiro e secretário de Administração e Finanças da CUT-RS, Antônio Güntzel, que critica o tremendp descaso das empresas com os seus trabalhadores.
Puro oportunismo
Para o presidente da Federação Democrática dos Sapateiros do Rio Grande do Sul, João Batista Xavier, o empresariado do ramo calçadista está se aproveitando da autorização dada pelo governo Bolsonaro para suspender contratos, cortar salários e realizar acordos individuais com os trabalhadores com o objetivo de extinguir empregos das camadas mais vulneráveis da população.
“Os patrões estão se aproveitando da situação. Nós esperávamos que o poder público fizesse muito mais para preservar empregos, seja o poder municipal ou estadual, já que o governo federal não está preocupado em criar algum tipo de política pública com essa finalidade. O que estão fazendo é terrorismo. O único propósito é flexibilizar os mais sagrados direitos da classe trabalhadora, que são o emprego e a renda”, enfatizou Batista.
O dirigente da Federação denuncia que as entidades patronais sequer recebem os sindicalistas para negociações, mesmo após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizando a realização de acordos coletivos.
“A própria Abicalçados não está dialogando com a Federação. É um oportunismo sem tamanho. Enquanto nós conversamos com os sindicatos filiados, as entidades patronais estão ignorando os nossos representantes e estão demitindo e tirando direitos dos trabalhadores”, criticou Batista.
Justiça cobra explicações da Beira-Rio
Na última quarta-feira (8), a Federação entrou com uma ação na Justiça do Trabalho cobrando explicações da Beira-Rio Calçados quanto às demissões em massa. Em despachado ocorrido nesta segunda-feira (13), a empresa tem prazo até esta quarta-feira (15) para prestar esclarecimentos.
“Esperamos que a Justiça reverta as demissões, tendo em vista à situação de calamidade pela qual passamos. Não é possível os trabalhadores desamparados neste momento difícil que atravessamos”, disse Batista.
"30 dias não vai quebrar ninguém"
Enquanto isso, o diretor da Calçados Wirth, Sérgio Wirth, publicou artigo no Jornal Dois Irmãos sob o título "30 dias não vai quebrar ninguiém", criticando os que dizem que "ninguém tem mais tem dinheiro".
"Nós tomamos a decisão de fechar a fábrica por 30 dias. Todo mundo foi orientado a ficar em casa. Somente 3 ou 4 pessoas ficaram, para serviço burocrático: a contadora, o serviço bancário e o serviço de exportação. Nem eu fui na fábrica, nestas duas semanas, e faço minha comunicação de casa", escreveu Wirth.
"Acho que fechar por 30 dias não vai quebrar ninguém. As férias também são de 30 dias. Não fizemos férias adiantadas. Fizemos um acordo de parada, por 30 dias, e todos vão receber o pagamento cheio. Depois, vamos negociar com os funcionários de como acertar, poderemos descontar até 5 dias por mês, quando voltarmos a trabalhar, ou podemos reduzir as próximas férias. Enfim, vamos deixar passar a quarentena e depois vamos negociar com os funcionários", apontou Wirth, revelando uma postura diferente de outros empresários do setor.