'Resistência em SP abriu novos caminhos para o movimento estudantil', diz aluno de Goiás
Para estudantes goianos, que ocupam escolas contra projeto de Marconi Perillo (PSDB) de terceirizar a gestão escolar, inspiração veio de ocupações paulistas, que seguem apesar do recuo de Alckmin
Escrito por: • Publicado em: 14/12/2015 - 14:34 Escrito por: Publicado em: 14/12/2015 - 14:34
São Paulo – Uma semana após o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ceder às pressões de estudantes, que tomaram ruas e ocuparam 209 escolas em todo o estado, e anunciar a suspensão da reorganização da rede de ensino na sexta-feira (4), o movimento não acabou. Apesar das desocupações – muitas delas com atos simbólicos, com pintura e grafites para entregar ao estado uma escola mais bonita do que antes –, 101 unidades seguem ocupadas. Só na capital paulista são 54. Entre elas, a Escola Estadual Anhanguera, no bairro da Lapa, zona oeste. Ocupada desde o último dia 27, a escola deixaria de oferecer, em 2016, o ensino fundamental e de Jovens e Adultos. Passaria então a manter apenas turmas de ensino médio. “Na minha classe tem 62 alunos matriculados. Mais da metade frequenta as aulas. Imagina então como ia ficar recebendo estudantes do Emiliano Cavalcanti, que fecharia ensino médio”, conta a estudante Maria Eduarda D., 17 anos, aluna da 2ª série do ensino médio do Anhanguera que está na ocupação desde o início.
De acordo com ela, a suspensão da reorganização está longe das reivindicações dos estudantes. “Queremos garantia de que o governo vai abandonar a ideia de reorganizar e também queremos melhorias na educação e na escola. Aqui no Anhanguera, não temos biblioteca. Os livros estão jogados pelo pátio e a diretora mora num anexo, como caseira”, afirma. “Isso não pode continuar. Por isso também a ocupação continua”. Esse movimento, que começou na noite de 9 de novembro na Escola Estadual Diadema, mais conhecida como Cefam, ganhou apoio de pais, professores, movimentos sociais e de grande parcela da sociedade e segue com promessas de novas ocupações em 2016, está inspirando os estudantes goianos.
Na última quarta-feira (9), eles ocuparam o Colégio Estadual José Carlos de Almeida, na região Central de Goiás, que havia sido fechado pelo governador Marconi Perillo (PSDB). Na quinta (10), ocuparam o Colégio Estadual Professor Robinho Martins de Azevedo, no Jardim Nova Esperança. Na sexta (11), foi a vez do Colégio Lyceu de Goiânia, também no centro. Os estudantes são contrários à terceirização da gestão escolar por Organizações Sociais. Nesta semana, o governo Perillo publicou decreto que autoriza a contratação dessas organizações para dirigir 200 escolas em todo o estado. Ainda não se sabe quais serão.
"Com as ocupações de escolas em São Paulo enxergamos que o governador tem de dialogar com todos, independente de serem jovens ou não, e que a falta de diálogo acabou desgastando sua imagem em todo o mundo, sendo visto como um ditador", conta o estudante Gabriel Tatico, integrante da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e União Goiana dos Estudantes Secundaristas (Uges). De acordo com ele, as manifestações em São Paulo mostraram também a necessidade de um movimento estudantil mais organizado e, principalmente, que é possível vencer. "Houve uma vitória no momento em que o governador recuou e suspendeu a reorganização. Vai ter de dialogar. E mesmo que a reorganização vier a acontecer, já não será mais a mesma. O projeto será alterado com os debates", diz.
Para Tatico, a luta em Goiás não é fácil. No estado já há autorização para a contratação das organizações sociais. "Ou seja, aqui já estamos num processo mais adiantado de privatização do que em São Paulo. Temos também escolas administradas pela Polícia Militar, com policiais armados dentro da escola. Mas a escola será nosso front de resistência", diz. Há ainda, segundo ele, o período de recesso escolar, que pode enfraquecer as manifestações. No entanto, o apoio já é grande. São sindicatos de várias categorias profissionais, movimentos sociais, centros acadêmicos universitários e comunidade em geral.
"Vamos defender a escola pública, e exigir mais investimentos, com atividades culturais e esportivas. Vamos ocupar a escola para que, quando voltarem as aulas, os professores e dos diretores estejam lá. Se nada fizermos, vamos voltar e estarão lá gestores empresariais tomando conta da nossa escola".