CNTRV defende o combate à informalidade e ao trabalho infantil na capital do calçado masculino
Escrito por: Redação CNTRV • Publicado em: 25/09/2023 - 18:02 • Última modificação: 26/10/2023 - 10:33 Escrito por: Redação CNTRV Publicado em: 25/09/2023 - 18:02 Última modificação: 26/10/2023 - 10:33freepik
A cidade de Franca, no interior paulista, é marcada por superlativos quando o assunto é sapatos para homens. Enquanto a pujança de sua produção lhe garante o título de "Capital Nacional do Calçado Masculino", a forma como parte dessa produção é feita acende um alerta pela exploração extrema dos trabalhadores, especialmente mulheres e crianças.
A situação dramática foi revelada por matéria publicada no site da Carta Capital (veja link abaixo) e elaborada pela Fashion Revolution, organização que se define como um movimento global que trabalha para que a moda valorize as pessoas acima do crescimento e do lucro e que seja sustentável.
Para Cida Trajano, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Vestuário da CUT (CNTRV), as situações relatadas com relação a informalidade, trabalho infantil e jornadas extenuantes violam princípios básicos do trabalho digno e merecem atenção da entidade.
"Enquanto movimento sindical, temos de acionar tanto o Ministério Público, mas principalmente os órgãos competentes do Ministério do Trabalho, para junto com a CNTRV buscar a solução desses problemas", disse Cida Trajano.
A dirigente lembra que mesmo o sindicato local tendo se desligado da Confederação e da CUT há cerca de dez anos, a CNTRV segue atenta para contribuir na busca de meios eficientes e legais de resolver a situação.
"Temos de cobrar das autoridades a responsabilidade pelo cumprimento da legislação e pela punição dos eventuais promotores dessa exploração, para que sejam penalizados, afinal, trabalho infantil é crime", completa a presidenta da CNTRV.
Sapatos costurados em todo lugar
A reportagem da Fashion Revolution encontrou, principalmente nos bairros de baixa renda de Franca, mulheres costurando sapatos em filas do posto de saúde ou em frente a suas casas.
Os turnos de trabalhos chegam a 18 horas por dia, de segunda a segunda. Tudo isso porque essas operárias faturam uma média de apenas R$ 0,90 a R$ 2 a cada par de sapatos costurado.
Criança vai junto…
No rastro desse trabalho informal e precarizado, muitas vezes realizado dentro da própria casa, a criança acaba sendo arrastada para "ajudar" na produção.
Essa roda de abusos e ilegalidades ajuda a indústria calçadista de Franca a ostentar seus números superlativos. Essas operárias e seus filhos contribuem com uma indústria de 388 fábricas que movimentam cerca de US$ 92 milhões (R$ 455 milhões) por ano.
Segundo dados de Boletim Econômico emitido pela prefeitura da cidade, a produção em 2022 foi de cerca de 22,4 milhões de pares, com projeção de fechar 2023 com 34,3 milhões.
Quadro piora com reforma trabalhista
De acordo com Cida Trajano, toda a situação denunciada pela matéria acabou potencializada a partir de 2016 por dois fatores: a reforma trabalhista que retirou direitos e desmontou a CLT, e o governo Bolsonaro que agiu contra a classe trabalhadora.
"A situação que ocorre em Franca foi potencializada pela tanto pela reforma trabalhista de 2016, quanto pelas ações, omissões e desmandos que ocorreram durante o governo anterior em relação aos trabalhadores. Isso tem a ver com direitos humanos, que são feridos com situações de trabalho análogos à escravidão e trabalho infantil " conclui a presidenta da CNTRV.
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