Em comemoração aos 30 anos de políticas para mulheres na CUT, o coletivo de trabalhadoras da Central promoveu em São Paulo um seminário para falar sobre paridade e fortalecimento da participação política e sindical.
Mas, como não poderia deixar de ser, as medidas golpistas apresentadas pelo governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB) foram os principais temas do encontro organizado em parceria com a FES (Fundação Friedrich Ebert).
Já na abertura, a secretária de Mulheres da CUT, Juneia Batista, ressaltou que os prejuízos causados pela PEC 55 (antiga PEC 241, que congela por 20 anos investimentos públicos em setores como saúde e educação) ainda são pouco conhecidos pela população.
“Todas as mulheres serão prejudicadas pela limitação do acesso aos serviços púbicos, mas as mulheres, especialmente as mulheres negras, é que vão pagar o preço mais alto. Porque estão na base da pirâmide social e são as que mais utilizam. A gente tem que massificar o debate sobre essa PEC nas fábricas e nas praças. Temos que voltar a ser o que era nossa CUT”, defendeu.
Maldade de gênero
Ao falar também sobre a medida, o secretário geral da CUT, Sérgio Nobre, destacou que a restrição na educação dificulta ainda mais a luta por igualdade entre gêneros. Mas alertou que os ataques de Temer não param por aí.
A reforma da Previdência, prestes a ser anunciada, será um grande golpe na vida das trabalhadoras, indicou, porque deve ampliar o tempo de contribuição a quem já possui dupla jornada.
“Não há outro desafio maior para o movimento sindical do que a derrota do golpe. A gente precisa recuperar e fazer esse debate”, disse.
Paridade – Nobre lembrou que a implementação da paridade aprovada em 2015 no 11º Concut (Congresso da CUT) é um importante instrumento de fortalecimento das mulheres no interior da Central, mas ainda precisa ser aplicado na base.
“Temos muitos que avançar nos ramos e nos sindicatos, apesar de já ter melhorado muito. A nossa experiência vai para o mundo e outras centrais já reivindicam paridade”, apontou.
Retrocesso universal
Mas se o cenário é duro aos progressistas do Brasil, na Europa e nos EUA a situação não é diferente, como avaliou a vice-presidente da FES (Fundação Friedrich Ebert), Katharina Hofmann.
Após destacar que, com a crise econômica, os brasileiros precisam de mais e não menos serviços públicos, e relacionar a PEC 55 com a ampliação da desigualdade, ela lembrou que também no exterior as forças conservadoras avançam.
“Pela primeira vez desde o fim da segunda guerra mundial, partidos populistas da direita avançam na Alemanha. Nos EUA, elegeram um presidente sexista e que ataca verbalmente as mulheres e os trabalhadores. A eleição dele é um choque para todas nós que trabalhamos por um mundo melhor. Isso vai mudar apolítica internacional para pior.”
Diante disso, mais do que nunca, os sindicatos são fundamentais na resistência. “As políticas são muito importantes para deixar só para os políticos. É muito importante e necessário o engajamento da sociedade, dos sindicatos e de cada cidadão na política e pela democracia.”
Formação, formação, formação
Ainda pela manhã, dirigentes atuais e aquelas que começaram a escrever a história das trabalhadoras na CUT avaliaram quais os desafios na luta pela igualdade. De maneira unânime, em primeiro lugar, todas defenderam a necessidade de investir em formação.
Vice-presidenta da Central, Carmen Foro, destacou a importância de reforçar o trabalho de base para enfrentar desconstrução dos direitos e a necessidade de reafirmar alianças com movimento feministas. “Feminismo nunca foi tão necessário quanto no atual contexto.”
Como outras dirigentes que a sucederam, ela também defendeu a paridade já em vigor na CUT como algo além de cargo. “Paridade tem de vir acompanhada por uma agenda de transformação e por instrumentos para empoderamento, incluindo ocupar cargos estratégicos.”
A formação e a necessidade de ampliar o espaço de atuação dento do movimento sindical também foram discutidas pela ex-coordenadora da Comissão de Mulheres da CUT Sandra Cabral e por uma das fundadoras da Comissão Nacional sobre a Mulher Trabalhadora da CUT Didice Delgado.
“Precisamos aprofundar a formação, porque temos necessidade de voltar para a base. E intervir mais no debate global, das questões gerais, não ficar apenas nas questões específicas das mulheres. Isso inclui participar das reuniões da direção da CUT, da Executiva, do sindicato, porque essa também é forma de se imporem no movimento sindical”, falou Didice.
Paridade com poder
Ex-integrante do Coletiva Nacional de Mulheres Raimunda Mascena foi outra liderança a apontar a formação como questão estratégia, mas sempre com um viés libertador. “Com paridade precisa aprofundar o processo de formação das mulheres do ponto de vista político, mas também do feminismo e abordando a importância de unidade entre nós. As mulheres estão juntas, mas não afinadas em torno de uma questão maior, que é o fortalecimento da unidade dentro de um movimento composto por trabalhadores e trabalhadoras”, falou.
Secretária Municipal de Políticas para as Mulheres da cidade de São Paulo, Denise Motta Dau, definiu a CUT como protagonista na luta das trabalhadoras, tanto do ponto de vista interno, com cotas e paridade, quanto apontando bandeiras como direito à creche e ao controle do próprio corpo, posição expressa na defesa da legalização do aborto em 1991.
Para ela, o momento é de enraizar conquistas. “Temos paridade, mas muitos ramos e sindicatos não têm cota ou secretaria da mulher. E na própria CUT nacional nunca tivemos tesoureira ou presidenta mulher. Devemos aprofundar o debate de qualificação da paridade e da reformulação interna para ter diálogo externo com as jovens, inclusive as que estão no mundo do trabalho.”
Ex-secretaria nacional da Mulher Trabalhadora da Central, Rosane Silva, abordou a necessidade de fortalecimento dos coletivos de mulheres, especialmente os estaduais desses espaços que funcionam também como espaço de formação. E resumiu qual o modelo de paridade que buscam. “Queremos paridade com poder.”