Nas últimas quinta e sexta, 22 e 23 de novembro, dirigentes de diversos sindicatos filiados à CNTRV participaram do Seminário “Desafios do Movimento Sindical”, organizado pelo Macrossetor da Indústria da CUT, pelo TID Brasil e pela Fundação Friedrich Ebert.
[SAIBA_MAIS] Seminário debaterá os desafios da organização sindical
Participação do Ramo Vestuário da CUT no Seminário
Durante a programação do evento, que foi realizado na cidade de São Paulo, dirigentes ligados às confederações cutistas dos trabalhadores nas indústrias químicas, metalúrgicas, vestuário, alimentação, energia, construção civil e madeira, debateram com especialistas nas áreas de economia do trabalho, organização sindical e mercado externo, alguns dos temas centrais no atual cenário industrial. “O momento é estratégico. É o momento da construção do futuro”, avaliou Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, que falou na tarde da sexta-feira, 23.
“Diante das transformações políticas e econômicas no Brasil e no mundo, os debates do Seminário foram fundamentais para entender a conjuntura e traçar propostas que visem não só uma melhor organização às lutas sindicais, mas também o fortalecimento da indústria brasileira e a geração de empregos com garantia de direitos, que é o maior desafio do Brasil neste momento”, aponta Cida Trajano, presidenta da CNTRV e coordenadora do Macrossetor da Indústria da CUT.
Para o presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID Brasil), Rafael Marques, o momento é de muita atuação e unidade sindical. “Precisamos discutir o caminho e a trajetória que vamos dar à luta sindical no próximo período. O Brasil vai precisar muito dos trabalhadores organizados para sair dessa cilada que está se avizinhando”, alertou o sindicalista.
Claudio Gomes, presidente da CONTICOM, avaliou que será preciso aperfeiçoar o diálogo com os trabalhadores e trabalhadoras. “A taxa de sindicalização existente no país e o próprio processo eleitoral mostraram que precisamos aperfeiçoar o nosso discurso junto ao trabalhador. Aquilo que fazíamos, do jeito que fazíamos, não gerou os resultados que esperávamos. Temos que desenvolver uma nova abordagem junto à classe trabalhadora e ao mesmo tempo ir preparando os passos seguintes de nossa organização, pois as novas tecnologias e metodologias de trabalho surgem a todo momento", destacou na mesa de abertura composta pelos representantes das confederações, do TID e da Fundação Friedrich Ebert.
“O governo eleito não tem diálogo com os trabalhadores, mas tudo indica, até o presente momento, que ele também não tem diálogo com o setor patronal da indústria”, diz Chinaglia
Convidado para debater o plano “Indústria 10+” e as relações com o governo, o deputado reeleito Arlindo Chinaglia (PT) avaliou que dificilmente a classe trabalhadora organizada terá algum tipo de acesso ao governo de Jair Bolsonaro (PSL). "Para o desenvolvimento das ações propostas no documento, que trata de questões muito bem amarradas sobre o desenvolvimento industrial pelos próximos 10 anos e a continuidade pelas próximas décadas, será preciso uma política de Estado que, até o presente momento, não está à vista. Este é um governo que veio para privatizar e precarizar ainda mais as relações de trabalho. Diante disso, temos que ir até o trabalhador e esse é o grande desafio para o futuro do movimento sindical e também da política partidária”.
China em debate
O Seminário dedicou uma mesa específica para debater o modelo produtivo chinês e seus impactos na indústria brasileira. O assessor sindical especialista na economia chinesa, Milton Pomar, que expôs o tema, criticou a falta de planejamento da indústria brasileira. “A estratégia da China para o Brasil, nós já sabemos. O que precisamos definir é qual a estratégia do Brasil para a China que representou, nos últimos anos, 300 bilhões de dólares de compras em produtos brasileiros. Não se dá um chute num cliente como esse, como fez recentemente o presidente eleito. São mais de 500 bilhões de dólares somente em investimentos”, afirmou Pomar que destacou ainda que o discurso brasileiro sobre a competitividade chinesa anda ultrapassado. “Muitos ainda sustentam o discurso de que a China vende barato porque paga uma miséria para seus trabalhadores, mas não é tão simples assim. Os trabalhadores chineses, em média, ganham mais que os brasileiros. Um dos fatores importantes sobre a competitividade dos produtos chineses está justamente no planejamento industrial daquele país”.
Experiência alemã
O segundo dia do Seminário teve início com a exposição do professor e pesquisador da Universidade do Bochum-Ruhr da Alemanha, Dr. Manfred Wannöffel. Ele desenvolveu o tema “Os Desafios da Organização Sindical e o Futuro da Negociação Coletiva” e falou dos avanços e dificuldades do movimento sindical de seu país, onde assessora o Sindicato dos trabalhadores metalúrgicos. A representante da Fundação Friedrich Ebert, Katharina Hofman de Moura, também participou do debate.
Mas, afinal, porque a indústria significa tanto para um país?
O economista João Furtado também contribui nos debates. Ele falou sobre o futuro da classe trabalhadora em tempos de transformações no modelo produtivo industrial e a precarização das relações de trabalho. “Todas as atividades geram emprego, produzem riquezas, pagam impostos, produzem bens e serviços que satisfazem necessidades humanas, mas a indústria é diferente porque cria o progresso tecnológico que permite aumentar a produtividade, produzir mais e melhor, com menos recursos produtivos. Num país avançado, a indústria representa, no máximo, ¼ do PIB, mas cerca de 80% da pesquisa de desenvolvimento é feita pela indústria. É ela quem torna o progresso tecnológico disponível para todos”, afirmou Furtado.
Encaminhamentos
Segundo Cida Trajano, os debates promovidos pelo Seminário culminaram em propostas importantes para a organização sindical nos setores industriais cujos trabalhadores são representados por entidades cutistas. “Temos muito a digerir. Os debates foram extremamente produtivos e certamente, deles, será possível sistematizar uma série de propostas para o enfrentamento do próximo período. O modelo sindical brasileiro está em transformação e a troca de experiências dentro e fora de nosso país é um ponto a nosso favor”, avaliou a sindicalista.
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