O governo brasileiro é frágil e vem sendo atacado de todos os lados. Questionam seu direito a existir e tratam de impedir que governe. O governo cede, mas continua isolado, golpeado pelos chantagistas no Congresso, objeto do terrorismo midiático que faz do país um inferno e do futuro, uma tragédia. Todos dizem que querem que o Brasil saia da crise em que inegavelmente vivemos. Uns, sair para voltar ao redil do mercado, da privatização, da subordinação externa, da degradação dos direitos sociais e do mundo do trabalho. Já disseram que o país não cresce "porque o salário mínimo é muito alto". Já anunciaram que gostariam de "reduzir os bancos públicos a quase nada".
Esses querem o fim da crise deles. A crise do rentismo, da especulação financeira, da remessa ilegal de lucros para o exterior. Querem – os que nos levaram à ditadura e ao neoliberalismo – um país deles, uma vez mais. Querem a renúncia deste governo não apenas para que eles voltem a fazer o que bem entenderem do Brasil, mas também para que a esquerda, que acabaria desmoralizada, nunca mais lhes tire o sono.
O fim da crise, para eles, é a entrega da Petrobras e do pré-sal aos fundos-abutre; é o corte drástico nos recursos para as políticas sociais; é a diminuição do papel do Estado e a ampliação subsequente do mercado; é a repressão aos salários e aos sindicatos; a consolidação do papel central dos bancos, do sistema financeiro e do capital especulativo. Seria sair desta crise para outra, com aceleração da concentração de renda, do desemprego, do arrocho dos salários.
Mas há outra forma de sair da crise. A retomada das propostas que funcionaram bem na resistência à crise em 2008. A política anticíclica, que funcionou muito bem, aponta para a expansão do crédito, com o fortalecimento dos bancos públicos, a intensificação da distribuição de renda para o mercado interno de consumo popular que, por sua vez, aciona o mecanismo virtuoso que faz girar a economia, com a criação de mais empregos, e resultando em maior arrecadação.
Para isso é indispensável uma baixa imediata e radical da taxa de juros, limitando os ganhos do capital especulativo, que vive de renda e do endividamento, contrapondo-se à retomada do crescimento e à distribuição de renda. Essa saída da crise retomaria o caminho iniciado em 2003, penalizando o rentismo e beneficiando a produção, o consumo e a extensão das políticas sociais. É uma saída democrática e popular, que atende às grandes maiorias, as mesmas que elegeram e reelegeram Lula e Dilma, às quais o governo deve, antes de tudo, sua existência.
A crise é única, mas cada leitura dela aponta para formas distintas de encontrar a saída. Para a direita, é provocada por presença excessiva do Estado, das regulações estatais, dos gastos públicos, dos recursos para políticas sociais. Por isso aponta para um duro ajuste fiscal, com corte ainda mais duro dos recursos públicos, com aprofundamento da recessão e com a conta paga pelos trabalhadores e pelos beneficiários das políticas sociais em geral.
Para a esquerda, chegou-se à crise porque os recursos que deveriam ser canalizados para superar a recessão e o déficit nas contas públicas são canalizados para a especulação e a sonegação. Que, portanto, tem que ser superada penalizandoao rentismo e todos os seus mecanismos especulativos.
Essa é a luta hoje: pelo diagnóstico das razões para a crise que enfrentamos e pelas vias de sua superação.