Golpe: Lava Jato eliminou gravações para impedir posse de Lula e derrubar Dilma

09/09/2019 - 11:41

Conversas no Telegram entre membros da Lava Jato enfraquecem a tese usada pelo ex-juiz e atual ministro de Bolsonaro, Sergio Moro

Reportagem divulgada neste domingo (8) pelo jornal Folha de S Paulo, que fez parceria com o site The Intercept Brasil para divulgar informações obtidas por meio de um hacker, mostram que o ex-presidente Lula nunca quis obstruir as investigações da Operação Lava Jato do Paraná comandadas pelo ex-juiz Sergio Moro.

Essa hipótese, alegada por Moro para divulgar parte dos grampos que continuam em sigilo, foi derrubada com a divulgação da reportagem que revela conversas que os procuradores tiveram por meio do Telegram combinando estratégias de divulgação da parte do grampo que daria a entender que o objetivo de Lula ao aceitar ser ministro da Casa Civil da ex-presidente Dilma Rousseff era de livrar das investigações.

A tramoia começou em 16 de março de 2016, quando Moro, que virou ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PSL), divulgou um áudio com uma conversa entre a então presidenta Dilma e Lula que serviu como base para decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes suspender a nomeação do ex-presidente como ministro.

Segundo a estratégia montada pelos procuradores da Lava Jato, divulagada com estardalhaço pela TV Globo é demais meios de comunicação, o telefonema mostraria que a posse do ex-presidente tinha como objetivo travar as investigações sobre ele, transferindo a responsabilidade pelo seu caso de Curitiba para o STF. A interpretação foi encampada de forma acrítica pela mídia tradicional.

Analisadas todas as conversas que a turma do Paraná teve no Telegram, percebe-se que outros diálogos desmentiam essa tese.

Nessas conversas escondidas pelos responsáveis pela operação, surge Lula afirmando que sua entrada no governo se destinaria a garantir a governabilidade, salvar o governo em crise. São diversas anotações realizadas pela Polícia Federal, entre elas conversas em que Lula buscava uma reaproximação com o ilegítimo Michel Temer e o MDB.

O único trecho que os policiais federais anexaram aos aos autos da investigação antes que Moro determinasse o levantamento do sigilo do processo foi o que dava a entender o contrário.

Detalhe importante, a força-tarefa da Lava Jato soube uma semana antes da oficialização a respeito do convite feito por Dilma a Lula e em diversas ocasiões o ex-presidente expressou não estar certo sobre a decisão de assumir o ministério. No dia 9 de março, o agente Rodrigo Prado ouviu Lula confirmar o convite, numa conversa com o ex-ministro Gilberto Carvalho. O áudio anexado aos autos pela PF mais tarde mostra que o ex-presidente temia que sua ida para o governo fosse associada a uma tentativa de escapar da Lava Jato.

Após a nomeação, Lula conversou com sua assessora Clara Ant e, segundo as anotações feitas pelos agentes, ele indicou que estava desconfortável com a situação após a nomeação. “Diz que acabou de se foder. LILS diz que ficaram discutindo até meia-noite. LILS tem mais incerteza do que certeza. LILS diz que não tem como escapar ‘dela'”, resumiu o agente que estava na escuta, identificando o ex-presidente pelas iniciais de seu nome completo.

Conluio e “contexto político”

As mensagens também evidenciam outro comportamento irregular mostrado em outras mensagens: o assunto teria sido discutido entre integrantes do Ministério Público e o juiz Sergio Moro, que pediu relatórios com transcrições dos diálogos considerados mais relevantes. Em 15 de março, na véspera da nomeação de Lula, a polícia anexou aos autos da investigação três relatórios e 44 arquivos de áudio.

Membros da força-tarefa se preocupavam com a decisão de Moro de levantar o sigilo e divulgar os áudios. “Estou preocupado com moro! Com a fundamentação da decisão”, afirmou o procurador Orlando Martello no Telegram. “Vai sobrar representação para ele.” “Vai sim”, respondeu o procurador Carlos Fernando de Souza. “E contra nós. Sabíamos disso.” Já Laura Tessler acreditava em um efeito extra-jurídico, o apoio da opinião pública: “a população está do nosso lado…qualquer tentativa de intimidação irá se voltar contra eles”. Carlos Fernando recomendou: “Coragem… Rsrsrs”.

Depois de compartilhar com o grupo vídeos de uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, Martello propôs que todos os integrantes da operação renunciassem aos cargos se algo acontecesse com Moro e Laura sugeriu que a melhor resposta nesse caso seria mover uma ação contra Lula e pedir sua prisão.

Andrey Borges de Mendonça achava difícil defender a divulgação da conversa de Dilma por causa do horário em que foi realizada, mas a maioria discordou. “O moro recebeu relatório complementar e o incorporou”, disse Carlos Fernando. “Nesta altura, filigranas não vão convencer ninguém.”

Deltan entrou tarde na discussão e se alinhou com Carlos Fernando. “Andrey No mundo jurídico concordo com Vc, é relevante”, disse. “Mas a questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior que é político.” Mendonça disse concordar com Dallagnol, mas advertiu. “Isso tera q ser enfrentado muito em breve no mundo juridico”, escreveu. “O estrago porem esta feito. E mto bem feito”. Era tarde, e os outros integrantes do grupo não se manifestaram mais sobre o assunto.

Cinco dias depois, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, suspendeu as decisões de Moro, afirmando que o sigilo havia sido levantado “sem nenhuma das cautelas exigidas em lei”. Mas isso não invalidou a decisão do ministro Gilmar Mendes anulando a posse de Lula.

Reprodução/FSP UOLReprodução/FSP UOL

 

Com informações da RBA.