Junto a representações das maiores centrais sindicais brasileiras, a presidenta da Confederação Nacional do Ramo Vestuário da CUT, CNTRV, Cida Trajano, participou nesta quarta-feira, 8, de uma importante reunião com a embaixadora dos Estados Unidos Katherine Tai, responsável por questões comerciais na embaixada norte-americana, sediada em Brasília. A reunião foi promovida pelo Solidarity Center, organização ligada à AFL-CIO, maior central sindical da região norte do continente.
Um dos objetivos do encontro foi debater a precarização do trabalho em setores com grandes impactos nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. De acordo com dados elaborados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), em 2021 o país foi o terceiro maior exportador de produtos têxteis e de confecções fabricados no Brasil, ficando atrás somente dos vizinhos Paraguai e Argentina.
Relações de trabalho continuam precárias
Para Trajano, no aspecto das relações de trabalho, a indústria do vestuário no Brasil ainda tem muito que avançar.
“As transformações no mundo do trabalho são inúmeras e nem sempre propiciam melhorias na qualidade de vida e trabalho das pessoas. Infelizmente, grande parte da indústria do vestuário no Brasil não tem responsabilidade social e configura uma realidade que não combina com as exigências do mercado sobre sustentabilidade”, avalia.
A sindicalista ressalta que questões como empregos verdes e indústria 4.0 são pautas importantes para o setor, mas que é preciso envolver as organizações empresariais e governamentais em um grande processo de diálogo social envolvendo as grandes marcas e redes varejistas.
“Como evoluir enquanto grandes marcas continuam (no Brasil, nos Estados Unidos e em outros países) etiquetando peças produzidas sob condições precárias de trabalho, muitas vezes produzidas em ambientes domésticos por trabalhadoras sem nenhuma proteção social?”, indaga a sindicalista.
No que se refere aos direitos humanos, o setor também protagoniza situações preocupantes. “Diferente das peças publicitárias de marcas e redes varejistas, mulheres e pessoas LGBTQIAP+ enfrentam discriminação e violência em muitas fábricas. Mesmo no setor de confecções, onde a maioria na linha de produção é formada por mulheres, as chefias e os cargos com remuneração superior ainda são ocupados por homens”, denuncia Trajano que enfatiza: “este problema se reflete nas estruturas sindicais”.
Iniciativa levanta expectativas positivas
Trajano avalia que a iniciativa do Solidaty Center e governo norte-americano traz uma nova perspectiva para o movimento sindical brasileiro nos diversos setores produtivos.
“Os países precisam se importar com a origem dos produtos consumidos por sua população sejam eles produzidos interno ou externamente. Esta é uma trajetória em que as potências econômicas têm grande responsabilidade e precisam desenvolver uma política capaz de transformar a vida de milhões de trabalhadores e trabalhadoras em diversos países da América Latina e Caribe, bem como em outras regiões do mundo”, afirma.