O racha dentro das forças que apoiaram o impeachment fica mais claro a cada dia. Na segunda (19), foi a vez do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), externar suas divergências em relação à gestão Michel Temer. Em debate na Bovespa, ele teceu críticas à Proposta de Emenda Constitucional 241, que limita o crescimento dos gastos públicos e é considerada prioritária pelo governo federal. Para Alckmin, a medida pode acabar com o investimento público e sobrecarregar estados e municípios.
"A despesa primária não pode crescer mais do que a inflação, e isso inclui pessoal, custeio e investimento. Você acha que o judiciário não vai ter aumento? Precisa ter cuidado, porque se não algo bem intencionado vai se transformar em algo que vai acabar com investimento”, disse. "Se não cuidar,vai virar em algo que vamos desconhecer o crescimento", completou, repetindo o que vários economistas têm dito.
A PEC estabelece que os gastos primários do governo - que não incluem as despesas de natureza financeira - só poderão crescer, no máximo, o equivalente à variação da inflação do ano anterior. Isso significa que não poderá haver aumento real do que é investido nos direitos sociais, nas políticas públicas e na Seguridade Social, mesmo que a economia deslanche, que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça ou a população aumente. Caso seja aprovada, a regra fiscal valerá por 20 anos.
Para Alckmin, a conta do congelamento das despesas, sem levar em conta o crescimento da economia, vai cair nas costas de estados e municípios."O governo federal ignora o crescimento na economia. Vai ter problema na Saúde, vai ter que mudar o SUS e vai cair nas costas dos Estados e prefeitos. (...) Em um país que está envelhecendo, e que, pela Constituição, garante que da vacina ao transplante é tudo de graça, é impossível”, afirmou.
Outro governador presente ao debate, Raimundo Colombo (PSD), de Santa Catarina, avaliou que o governo Temer devaria focar na reforma da Previdência, não no teto de gastos. "Vai cortando, cortando, daqui a pouco não tem mais o que fazer. Eu daria muito mais ênfase para resolver um problema mais prático, que é a Previdência", afirmou.
Já o governador do Paraná Beto Richa (PSDB), que também participou da atividade, criticou a transformação dos Estados em meros pagadores de folha.