Por Daniel Santini
A Zara enfrenta nova denúncia de exploração de trabalhadores em condições análogas às de escravos, desta vez na Argentina. Costureiros bolivianos foram encontrados em condições degradantes em oficinas clandestinas durante fiscalização realizada no final de março pela Agência Governamental de Controle (AGC) de Buenos Aires. Segundo as autoridades, eles estavam produzindo peças para a grife. Além de trabalho escravo, desta vez o flagrante envolve também exploração de trabalho infantil. “Os homens e as crianças viviam no local de trabalho, não eram registrados e estavam submetidos a más condições. Eles não tinham documentos e estavam detidos, não podiam sair do local de trabalho sem autorização”, explica o chefe da AGC, Juan José Gómez Centurión, em entrevista à Repórter Brasil.
Com base no flagrante da produção de peças com a etiqueta Zara, registrado em fotos e vídeos, a organização La Alamenda, especializada no combate ao trabalho escravo, formalizou em 26 de março denúncia para que o departamento de Fiscalização Antitráfico (Ufase, na sigla em castelhano) investigue e tome providências. Segundo a Alameda, além de serem impedidos de deixar o trabalho, os costureiros chegavam a cumprir jornadas diárias de mais de 13 horas. O grupo formalizou a denúncia e também organizou protestos em frente a lojas da Zara na Argentina.
A reportagem procurou os representantes da Inditex, empresa que detém a marca Zara. Eles se disseram “bastante surpresos com a situação”. De La Coruña, na Espanha, a assessoria de imprensa afirmou que a empresa não foi notificada ou informada oficialmente por nenhuma autoridade argentina e que só soube do caso pela imprensa. “A escassa informação que tivemos, que são os endereços das oficinas, permite dizer que elas não têm nenhuma relação com nossos fornecedores e fabricantes no país”, afirmam.
A Zara informa ter 60 fabricantes argentinos e que, nos últimos dois anos, realizou 300 auditorias de fornecedores e fabricantes do país. A empresa se diz disposta a colaborar com o esclarecimento do caso, “inclusive com a Alameda, tenham ou não essas possíveis situações irregulares a ver com a empresa”.
É a segunda vez que a Zara se vê envolvida com denúncias de superexploração de trabalhadores na América do Sul. Em agosto de 2011, fiscais flagraram trabalho escravo na produção de peças da grife no Brasil.
Tráfico de pessoas
Pela lei argentina, a situação pode ser caracterizada como de tráfico de pessoas, segundo Juan José Gómez Centurión, responsável pela fiscalização em questão. “Eles estavam sem documentos, detidos no local. Mas isso foge da competência administrativa da AGC e, por isso, fizemos apenas o registro de más condições de trabalho, emprego de trabalhadores não registrados e falta de condições mínimas de segurança, e encaminhamos o caso”, explica.
A reportagem tentou contato com Marcelo Colombo, o chefe da Fiscalização Antitráfico, mas ele não foi encontrado para comentar as providências a serem tomadas com base no documento protocolado pela Alameda. O a denúncia surge em um momento em que o combate ao tráfico de pessoas e ao trabalho escravo ganha força no país. Nesta semana, será realizado em Buenos Aires um Congreeo Internacional contra o Tráfico de Pessoas. Em dezembro do ano passado, o Congresso Nacional aprovou mudanças na legislação sobre o tema.
Foto na homepage: oficina em Buenos Aires (Argentina)