A presidenta deposta Dilma Rousseff defende o engajamento dos trabalhadores em defesa do direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser candidato à Presidência da República. Em encontro com profissionais da educação promovido na noite de ontem (7) pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Dilma conclamou o apoio especialmente dos professores, que lotaram o auditório do Clube Homs, na Avenida Paulista.
"Uma vez Lula disse que estaria nessa eleição em qualquer hipótese. Preso ou solto, vivo ou morto. A gente tem de lutar porque vai ter eleição nesse país. E em qualquer hipótese, Lula é símbolo da luta popular que o país construiu em sua história. A presença dele não depende deles, depende de nós", afirmou, referindo-se à decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de negar, por unanimidade, o habeas corpus preventivo requerido pela defesa de Lula – o que ela considera parte do processo de perseguição e indício de "coisa muito ruim".
Citando um ditado muito usado no Rio Grande do Sul, segundo o qual "não está morto quem peleia", Dilma lembrou Lula "como o menino pobre sentado na cadeira, com roupa simples", em uma foto bastante conhecida do ex-presidente, "menosprezado, porque achavam que ele não entendia nada". "E depois da eleição de 2006, ele tornou-se o cara".
"Professores, vocês que transmitem o conhecimento. País nenhum vira nação sem professores e não estamos ainda à altura da nação que somos. E vocês têm a missão de puxar esse carro", conclamou, emocionada, ao concluir sua fala marcada por duras críticas ao Congresso Nacional "que a mídia diz que é comprado", ao Judiciário "que tem dois pesos e duas medidas quando se trata de Lula, quando deveria garantir o avanço da democracia garantido pelos direitos iguais", aos políticos que protagonizaram e apoiaram o impeachment sem crime de responsabilidade, que tiveram seus nomes envolvidos em escândalos variados, inclusive com malas de dinheiro, e à mídia "oligopolizada", nas mãos de poucas famílias.
"Uma mídia que produziu algumas das características do golpe, como a intolerância e o anticomunismo primitivo travestido de anti-petismo, misógino e machista, para construir estereótipos e reforçar preconceitos contra a mulher. Sempre me acusaram de ser dura, obcecada pelo trabalho, ou frágil, e que eu deveria reconhecer o meu lugar e que por isso eu deveria renunciar. Já os homens que me cercavam eram empreendedores e sensíveis".
Enciclopédia do Golpe
Em noite que marcou o lançamento do segundo volume da Enciclopédia do Golpe – O Papel da Mídia, que tem a sua ministra de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, entre os autores de um dos 28 verbetes, a presidenta deposta destacou a importância da educação e da comunicação.
Alfinetou o ministro da Educação Mendonça Filho, que ao ameaçar ir a todas as instâncias para proibir um curso livre sobre o golpe de 2016 na Universidade de Brasília (UnB) provocou reação em defesa da autonomia universitária, que levou outras universidades a abrirem o mesmo curso, entre elas a Unicamp, USP, UFC, UFRGS, UFJF, UFPB, UFBA, UFMS e UFRN. "Conseguiu que todo mundo criasse curso sobre o golpe nesse país, quando eles não gostam que se use essa palavra"
E a "ultra-direita", que fez emergir como "subproduto do golpe" movimentos como MBL, Vem pra Rua e a candidatura de Jair Bolsonaro (PSC-RJ). "Eles prometeram muita coisa, que tudo ficaria melhor com a nossa saída. Mas aí chegaram as malas de dinheiro enquanto os direitos e programas (sociais) foram sendo retirados, compras de votos no Congresso, deterioração e esvaziamento dos partidos que apoiaram o golpe. Um problema deles é nem ter candidato, tanto que se cogitou Temer".
E chamou atenção aos ataques à soberania nacional pelo governo de Michel Temer. "Para o pré-sal, além de internacionalizar, querem alterar o modelo de partilha, trazendo de volta o modelo de concessão, com perdas para o país. E tem ainda as privatizações, com a Eletrobras na mira, e todas as hidrelétricas no meio", disse.
Em discurso emocionado, a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, lembrou políticas dos governos petistas que estão sendo retirados. E prometeu mais atos como o realizado na noite de ontem, que ela chamou de desagravo, em apoio a Dilma e Lula. E prometeu estimular a criação de comitês em defesa da candidatura do ex-presidente.
Participaram do ato Eleonora Menicucci, os vereadores Juliana Cardoso e Eduardo Suplicy (PT), a dirigente da Fundação Perseu Abramo Selma Rocha, o ex-ministro da Educação Aloízio Mercadante, a dirigente nacional do MST, Kelly Mafort, a ex-presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação Jussara Dutra, a ex-secretária municipal de Educação Cida Peres, a secretária nacional de políticas para a Mulher, Junéia Batista, o jornalista Paulo Moreira Leite e o professor aposentado da USP Laurindo Lalo Leal, além de representantes do Comitê de Mulheres para a Democracia.