O frio de inverno abaixo de 10 ºC não foi obstáculo. Com a cuia de chimarrão passando de mão em mão, mais de 500 dirigentes de entidades sindicais filiadas à CUT no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná participaram da Plenária Interestadual, na última sexta-feira (13), em Porto Alegre.
O evento começou no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa, debatendo conjuntura nacional e organizando o Dia Nacional do Basta, que as centrais sindicais marcaram para o próximo dia 10 de agosto, e a atuação do movimento sindical na campanha Lula Livre e nas eleições de outubro.
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Bom dia, presidente Lula
Antes de compor a mesa da plenária, a secretária de finanças da CUT-RS, Vitalina Gonçalves, chamou os presidentes das CUTs Estaduais para comandar o “Bom dia, presidente Lula”, a saudação diária da Vigília Lula Livre, em Curitiba, onde ele é preso político desde 7 de abril na Superintendência da Polícia Federal, e que hoje ecoa em todo o Brasil.
O grito foi repetido com muita força 13 vezes e, ao final, todos cantaram, em pé, “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”.
Unidade na defesa da classe trabalhadora
O presidente em exercício da CUT-RS, Marizar Mello, abriu as manifestações dos dirigentes dos três estados do Sul do Brasil. “Temos que dialogar com a nossa base e fazer o enfrentamento com o capital. Só estamos aqui hoje porque o Brasil está vivendo um período de exceção na política.”
Para Marizar, a expansão da crise econômica e o ataque às instituições comprovam a necessidade de união dentro da CUT para consolidar a candidatura de Lula nas eleições de outubro.
A presidente da CUT-SC, Anna Julia Rodrigues, focou a importância da luta pela manutenção dos direitos dos trabalhadores. Ela destacou que a reforma trabalhista e a ameaça da reforma da Previdência foram golpes duros ao longo de 2017. “Temos que resistir e nos fortalecer. É um pé no sindicato e outro na luta”, resumiu.
A fala da presidente da CUT-PR, Regina Cruz, foi recebida com muito carinho, uma vez que é uma das coordenadoras da Vigília Lula Livre. Para ela, Curitiba virou uma cidade de resistência. Por isso, pediu para que a plenária se concentrasse na unidade da classe trabalhadora, de forma que organize ações concretas. “Vamos sair daqui mais fortalecidos.”
A plenária contou com a presença do deputado Adão Villaverde (PT), representando o presidente da Assembleia Legislativa, do ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e de vários dirigentes nacionais da CUT.
Eleger candidatos que representem os trabalhadores
O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, afirmou que o sentido da organização das plenárias em todo o país é articular os dirigentes sindicais para formar opinião. “Nós somos o maior foco de resistência das organizações de trabalhadores no Brasil.”
Ele questionou as “derrotas” impostas à CUT por veículos da imprensa. “A nossa grande vitória é permanecermos unidos e eu espero que os trabalhadores e trabalhadoras tenham aprendido. Após a reforma trabalhista, espero que tenham reconhecido o valor do movimento sindical.”
“Construímos os Brics, tivemos a ousadia de dizer que o FMI e o Banco Mundial não são a única alternativa, propusemos que o dólar não fosse moeda que servisse de parâmetro para o mundo, dissemos que havia uma outra realidade possível. O golpe se construiu por conta disso. Agora, eles não conseguiram desfechá-lo, porque ainda não conseguiram nos derrotar”, disse Vagner.
O apoio popular a Lula, mesmo após a condenação e prisão, impediu o desfecho esperado pelo campo político que tomou o poder no país. “Com tudo que aconteceu, o presidente Lula, em qualquer pesquisa para a presidência da República, aparece com mais de 35% dos votos e com a possibilidade grande de se eleger em primeiro turno. E com tudo que aconteceu, as pesquisas mostram que o PT tem 20% das preferências daqueles que têm partido político. Não conseguiram cassar o registro do PT, não conseguiram fechar a CUT, o MST, o MTST, a UNE e os movimentos sociais”, apontou o presidente da CUT.
Vagner salientou que “o Dia Nacional do Basta deve ser um dia de paralisação de uma hora, de duas horas, de três horas ou de 15 minutos, mas é de paralisação dos trabalhadores”. Ele frisou que “é preciso dizer qual é a nossa plataforma: luta pelo emprego, luta contra a carestia, mas também Lula livre, Lula presidente”.
O dirigente nacional da CUT denunciou que cerca de 90% dos parlamentares do Congresso Nacional foram financiados pelas instituições dos empresários. Vagner destacou a plataforma da CUT para as eleições de outubro, conclamando a eleição de candidatos que representem os trabalhadores. “Não queremos um Congresso do empresariado”.
“Clima está mudando na sociedade”
Analisando a conjuntura política, o ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Gilberto Carvalho, avaliou que a 84 dias das eleições a classe trabalhadora deve se preparar para eleger governos e parlamentares que garantam os seus direitos. “Certos partidos acham que estamos dividindo a esquerda ao não apoiar Ciro Gomes. Não. Nós vamos até o final com o ex-presidente. Vamos registrar Lula como candidato a presidente da República no dia 15 de agosto em Brasília”, disse.
Para Carvalho, a prisão de Lula ficou para a história como a última esperança de acabar com o apoio do ex-presidente. “O que nós assistimos foi um fato incrível, que desconcerta tanto a direita como a nós. Ele permaneceu no coração do povo. Então, não tem graça para eles terem feito todo esse golpe e ainda aparecer o 13 com o nome de Lula na urna”, assinalou.
Gilberto Carvalho:
No entanto, o ex-ministro reconheceu que há falhas na articulação do movimento. “No dia da prisão dele, esperávamos 40, 50 mil pessoas. Tínhamos 10 mil. Nunca vou me esquecer. Eu não me esqueço do Lula pegando no meu braço, olhando pela janela e falando assim: ‘Gilbertinho, a gente faz a guerra com os soldados que tem’”, recordou.
Carvalho contou que ficou “perplexo” com a prisão do ex-presidente. “Ficamos sem saber o que fazer por alguns momentos.” Questionando a forma do movimento fazer resistência, instigou o movimento sindical a repensar as formas de agir.
“Colocamos uma banquinha na Rodoviária de Brasília para que as pessoas escrevessem cartas ao Lula. E foi impressionante ver aquilo. A reação do povo não corresponde às nossas formas tradicionais de mobilização. Temos que nos perguntar se estamos em sintonia com o que é cultura popular e, se as formas de resistência que nós oferecemos ao povo, são as formas que o povo quer usar para se manifestar”, refletiu.
Ele salientou que “o clima está mudando na sociedade. Vamos aproveitar e vincular a esperança das pessoas com a reconstrução e a renovação do processo de atuação política.” Para ele, “é muito provável que o povo dê uma resposta como deu em 1974 quando, nas eleições, na ditadura ainda, havia um silêncio, a esquerda mais radical tentando fazer o voto nulo, o MDB começando a crescer e de repente dá um estouro de votos para o MDB, que era a reação à Arena da ditadura”.
Carta compromisso de Porto Alegre
O secretário-geral adjunto da CUT-RS, Amarildo Cenci, apresentou a Carta Compromisso de Porto Alegre. O texto ganhou o apoio de todos os participantes, além de alguns acréscimentos, durante as manifestações de dirigentes dos três estados.
O documento, cuja redação final será divulgada nos próximos dias, destaca a realização do Dia Nacional do Basta, no próximo dia 10 de agosto. “Basta de desemprego, basta de saque ás nossas riquezas, basta de reforma trabalhista, basta da PEC da Morte que destrói as políticas sociais de saúde e educação, basta de aumento no preço dos combustíveis, basta de rentismo, basta de desigualdades, basta de privatizações”.
A carta estabelece o dia 5 de agosto para panfletagens, colagens e atos de lançamento dos comitês sindicais Lula livre – Lula presidente. O sucesso do dia 10 de agosto nos motivará para campanha eleitoral.
“As eleições de outubro marcarão uma etapa decisiva na luta contra os golpistas e as elites brasileiras. Será a ‘campanha salarial’ mais importante das nossas vidas e da geração que nos últimos 30 anos luta por direitos e democracia e contra os poderosos”, enfatiza o texto.
“Além disso, é preciso ‘deseleger’ a base parlamentar que votou a favor do golpe, que aprovou a PEC da Morte, a reforma trabalhista e deu sustentação a esse governo”, conclui o documento.
Caminhada ao TRT-4
Às 13h, todos saíram em caminhada até o prédio do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, onde foi realizado um ato de protesto, marcando o Dia Nacional de Mobilização contra os desmandos do TRF-4 e do juiz Sérgio Moro.
A manifestação no TRF-4 contou com a participação do presidente do PT-RS, deputado Pepe Vargas, e de representantes de movimentos sociais.