O ato da CUT e demais centrais sindicais contra a extinção do Ministério do Trabalho, na manhã desta terça-feira (11), contou até com a participação do superintendente regional da pasta, em São Paulo, Marco Antonio Melchior, que subiu ao carro de som dos sindicalistas para falar em defesa da instituição, que deverá ser fatiada pelo governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
A manifestação, diante da sede da antiga DRT, na região central da capital paulista, terminou por volta de 11h30 com um "patrão" sendo transportado em uma rede por escravos, à moda do período colonial, uma forma de denunciar favorecimento aos empresários pelo futuro presidente, como mostra reportagem de Vitor Nuzzi, da RBA.
Na semana passada, Onyx Lorenzoni, O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse na semana passa que o Ministério do Trabalho terá suas funções distribuidas em três áreas. Os sindicalistas prometem resistir a essa medida.
"Se você extingue o MT, não tem mais o espaço de diálogo" - Sérgio Nobre, secretário-geral da CUT
"O que se avizinha para o próximo período é mais retirada de direito", acrescentou o dirigente, lamentando declaração de Bolsonaro de que é preciso optar entre emprego ou direito. "Trabalho sem direito é escravidão." Segundo ele, o MT ganha visibilidade com suas ações pelo interior, mas o trabalho escravo não se limita a essas áreas. "Tem em São Paulo, tem aqui do lado."
No cargo desde julho, o superintendente regional do Trabalho em São Paulo disse que até agora não chegou nenhuma informação sobre o fim do ministério. "Sabemos o que todos sabem", comentou Melchior, que é auditor fiscal há 22 anos e enfatizou que sua indicação para a Superintendência foi técnica, conforme preocupação do atual ministro, Caio Vieira de Mello.
"Temos inúmeras funções importantes, que não podem deixar de existir", disse o superintendente, citando serviços como atendimento ao trabalhador e ao imigrante, atividades de economia solidária e fiscalização.
Patrimônio
O Ministério do Trabalho é um "patrimônio dos trabalhadores", afirmou o presidente da Força Sindical, Miguel Torres. "A quem interessa a extinção? Aos trabalhadores ou àqueles maus patrões, que ainda escravizam trabalhadores?", questionou.
Ele também se referiu à proposta de lançar uma carteira profissional "verde e amarela", para trabalhadores com menos direitos, sob a alegação de que isso reduziria custos e facilitaria contratações – embora o impacto da "reforma trabalhista", criada com essa finalidade, tenha sido praticamente nulo. Para Miguel, querem dividir trabalhadores em "primeira e segunda categoria".
O presidente da CTB, Adilson Araújo, acredita que acabar com o MT é apenas "o primeiro ensaio" do novo governo, que segundo ele visa ao "Estado mínimo para atender ao máximo interesse (privado)". "Eles querem entregar tudo", afirmou, prometendo resistência. Vice da UGT, Antônio Carlos dos Reis, o Salim, disse que é preciso seguir o exemplo das manifestações recentes na Argentina e na França, por direitos, para mobilizar os trabalhadores no Brasil.
No início do ato, o presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, pediu um minuto de silêncio pelos sem-terra assassinados neste fim de semana no interior da Paraíba. E classificou o ministério de "símbolo da Era Vargas", destacando atuação em áreas como relações do trabalho, fiscalização e inspeção. Também lembrou que o governo sinaliza com alterações na Previdência: "Querem mandar uma proposta pior que a do Temer".
"Vamos construir uma frente de resistência democrática ampla, sem sectarismo", garantiu o secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, da Intersindical. "É possível lutar. Vamos enfrentar a extrema-direita."
Nobre, da CUT, enfatizou o discurso da resistência. "Vamos começar o ano fazendo grandes manifestações. Quanto mais eles reprimem, mais a gente vai para a rua."