CNTRV debate Impactos da eleição de Joe Biden para a classe trabalhadora no Brasil

07/12/2020 - 18:34

Tema foi apresentado por Laura Tompkins , diretora de programas do Solidarity Center AFL-CIO no Brasil e Paraguai

               Em sua última reunião do ano, a Confederação Nacional dos Trabalhadores/as do Ramo Vestuário da CUT, CNTRV, reuniu dirigentes das entidades filiadas de todo o país entorno de uma pauta analítica  e propositiva com objetivo de apontar diretrizes para a ação sindical no ano de 2021. A reunião aconteceu no último dia 3 e foi realizada de forma virtual.

A relação do governo Biden com o Brasil e os impactos de sua eleição para a classe trabalhadora de nosso país foi um dos temas. “Uma das questões mais importantes trazidas pela eleição de Biden é o recado contra o tipo de líder que foi Donald Trump. Apesar da evidente divisão popular, seguramente a direita extremista e o fascismo perdeu força no mundo. O impacto disso poderá ser absorvido de forma mais estrutural em países comandados por esse tipo de expressão política, que é o caso do Brasil”, refletiu Laura Tompkins, diretora de programas do Solidarty Center AFL-CIO, no Brasil e Paraguai.

               Laura apontou movimientos populares como “Black Lives Matte” (Vidas Negras Importam, em tradução livre), como fundamentais para o desmonte da trajetória Trump, replicada por Bolsonaro no Brasil. “A unidade do povo sobre pautas sociais como a luta contra o racismo e o machismo e, principalmente, pela preservação da vida frente à pandemia, é uma ferramenta poderasa para desmascar esse tipo de governo”, analisou a sindicalista norte-americana.

               Cida Trajano, presidenta da CNTRV, chamou atenção para a luta a ser travada no Brasil. “O movimiento sindical brasileiro não vai se calar diante de um governo que faz piada com a vida e a saúde do povo trabalhador. Não vamos nos contentar com abertura de vagas de trabalho informais e precárias em detrimento do emprego com carteira assinada”, convocou.

“Nos últimos anos, a classe trabalhadora brasileira tem perdido muitos direitos, mas nenhum deles foi embora sem que houvesse muita luta e resistencia. Os frutos dessa luta virão”, projetou Trajano.

 

Novas formas de organização

               Trajano falou ainda sobre a necessidade de criar novas formas de organização sindical como resposta à conjuntura. “Devemos perseguir o objetivo de construir entidades sindicais  grandes, fortes, representativos e capazes de se movimentar em meio a este cenário de desregulamentação das leis trabalhistas e fortalecimento da Indústria 4.0  Nossas ações em 2021 devem nos levar a isso”, apontou.

               Como exemplo de reorganização, Trajano falou da experiencia que está sendo construida na IndustriALL Brasil e no Macrossetor da Indústria da CUT. “Seremos uma única entidade representativa de todos os setores da industria. Esse é o caminho”.

 

Atuação em rede

               O sindicalista salvadorenho Gilberto Garcia, também participou da reunião e falou sobre a importancia da unidade do movimiento sindical latino contra a precarização das relações de trabalho promovida por grandes marcas do setor vestuário. “A Liga Contra as Grandes Marcas é uma organização que busca  identificar e combater a atuação irresponsável de marcas internacionais sob o ponto de vista trabalhista e sócio-econômico. Muitas dessas marcas pregam a sustentabilidade, mas em sua cadeia produtiva mantêm situações análogas à escravidão, por exemplo”. A CNTRV é uma das dezenas de entidades latino-americanas que fazem parte da Liga, que funciona como uma rede sindical.

 

Eleições municipais

               O resultado das eleições municipais foi outro assunto bastante debatido na reuinão. O advogado e membro de grupo de análises da Fundação Perseu Abramo, Antônio Carlos Carvalho, fez uma análise das eleições e refletiu sobre o que esse resultado aponta e como podemos usar estes apontamentos em prol do avanço das forças de esquerda no país.

“Uma das questões centrais para nossa organização é a narrativa com a qual estamos tentando dialogar com a classe trabalhadora. Falar do legado de Lula e Dilma é algo importante, mas, para os mais jovens me parece muito infértil, porque essa parte da população não experimentou essa transformação de forma consciente e tampouco considera este legado como algo importante para o Brasil”, explicou.