Três dias bastaram para unir 1 milhão de mulheres com um só objetivo: impedir a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). No domingo, em meio ao temor de que o ataque com faca ao candidato aumentasse as intenções de voto nele, surgiu no Facebook o grupo de discussões “Mulheres contra Bolsonaro”. O movimento organiza um ato para o dia 29 de setembro, sábado, a partir das 15h no Largo da Batata, em Pinheiros.
De todos os cantos do Brasil, a maioria dessas mulheres reunidas neste grupo fechado - só entra quem é convidada ou aceita pelas administradoras - quer que, no primeiro turno, as colegas votem em quem quiserem, menos no candidato do PSL. E, caso ele alcance o segundo turno, votem no adversário do militar, seja quem for.
A matemática é bem simples. Juntas, as mulheres somam 52,5% do eleitorado brasileiro. Portanto, unidas, podem impedir a vitória do candidato. Segundo a última pesquisa Datafolha, a rejeição ao candidato cresceu nos últimos dias – principalmente entre elas: 49% não votariam de jeito nenhum nele, número que era 43% há menos de um mês.
Tamanho desgosto por Bolsonaro tem motivo: o histórico de ataques contra mulheres. Em 2014, no plenário da Câmara, falou à deputada federal Maria do Rosário que ela “não merecia ser estuprada”. E se justificou, depois, em entrevista: “muito feia; não faz meu tipo”.
Em outro momento, num quadro do extinto programa CQC, Preta Gil perguntou a ele o que faria se o filho se apaixonasse por uma negra. “Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”, respondeu.
Também chegou a chamar Dilma Rousseff de homossexual – “se teu negócio é amor com homossexual, assuma” – e a criticou por indicar uma “sapatona” para a Secretaria de Políticas para Mulheres.
Referindo-se aos próprios filhos, declarou em abril de 2017: "Tenho cinco filhos. Quatro foram homens e na quinta dei uma fraquejada."
Admiradas com o crescimento espontâneo do grupo, as mulheres tentam se organizar também fora das redes – em eventos reais e presenciais organizados em cada estado. Outra ideia é redigir uma carta de manifestação contra o presidenciável.
Claro que, em tempos de polarização, não faltam discussões e picuinhas sobre a escolha do primeiro candidato.
De um lado, sobram argumentos a favor de Ciro Gomes, do PDT. Do outro, as defensoras de Fernando Haddad, do PT. Só não sobra muita eleitora para Marina Silva, da Rede, única mulher com chances reais na corrida eleitoral para Presidente – há quem a apoie e quem a critique por não se posicionar favorável a questões feministas, como o aborto. Há ainda eleitoras que enxerguem o perfil conservador da candidata, ligada à igreja.
Mas, no fim das contas, todas elas sonham com um só desfecho: a derrota de Bolsonaro.