Foram cinco horas de interrogatório e o réu, não o juiz, saiu nos braços do povo. Assim foi na noite desta quarta-feira (10), quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após ser ouvido pelo juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, discursou para milhares de pessoas na Praça Santos Andrade.
Talvez um de seus crimes seja justamente a disposição de, novamente, correr o país para ocupar a presidência da República, cargo para o qual é apontado como favorito por todas as pesquisas recentes.
“Estou vivo e me preparando para voltar a ser candidato a presidente deste país. Nunca tive tanta vontade como tenho agora, de fazer mais, melhor e provar mais uma vez que se a elite brasileira não tem competência para consertar esse país, um metalúrgico, com quarto ano primário, vai provar que é possível”, afirmou.
Sobre o palco e ao lado de lideranças políticas, de movimentos sindical e sociais, Lula agradeceu a solidariedade e desafiou aqueles que o julgam a realizarem o básico: apresentarem provas.
“Se um dia eu tiver cometido um erro, eu não quero ser julgado apenas pela Justiça, quero antes ser julgado pelo povo brasileiro. Achei que meus acusadores iriam mostrar hoje uma escritura, um documento, um pagamento, algo que fiz para ter o apartamento que dizem que é meu. Nada.”, criticou.
Mais uma vez, o ex-presidente se colocou à disposição da Justiça e cobrou provas dos crimes alegados a ele. “Virei em quantas audiências forem necessárias, prestarei quantos depoimentos forem necessários, porque se tem um brasileiro, um ser humano que está em busca da verdade, sou eu.”
Vem aí nova greve geral
Antes de Lula subir ao palco, lideranças de organizações como a CUT apontaram como os golpistas têm aproveitado o período do ilegítimo Michel Temer (PMDB) à frente do país para roubar direitos.
“Estão construindo um acordo espúrio de votar no Senado. O mesmo texto que aprovaram na Câmara, ou seja, acabando com o contrato de trabalho, arrebentando a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) também será votado lá. Vamos dar duas respostas: Ocupa Brasília no dia 24 e, se não funcionar, vamos organizar em junho a segundo maior greve geral da história do Brasil”, apontou o Presidente Nacional da CUT, Vagner Freitas.
No mesmo palco de Vagner, a presidenta eleita com 54,5 milhões de votos, Dilma Rousseff, enumerou todas as fases de um golpe que ainda não acabou. Além do impeachment, ela lembrou da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto do investimento com educação e saúde já aprovada, da própria Reforma Trabalhista, à qual o presidente da CUT se referiu, e da Reforma da Previdência.
“Eles (a oposição encabeçada pelo PSDB) perderam por quatro vezes as eleições. E aí perceberam que para fazer o estrago que estão fazendo, tinham de dar um golpe. Mas nós temos uma responsabilidade com a democracia e a democracia exige que não deixemos avançar esses golpes. Principalmente, quando querem inviabilizar as condições de cidadania para que nosso querido presidente Lula possa ser aceito ou não, votado ou não pelo povo brasileiro. Perder eleição não é vergonha, só é vergonha para golpista”, criticou.