A construção de uma pauta conjunta para o chamado “Complexo da Moda”, que reúne os setores de têxtil, confecções, calçados e couro, foi o objetivo central de reunião realizada no último dia 17/10, na sede da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), em São Paulo, entre representantes de trabalhadores e das empresas.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Vestuário da CUT (CNTRV) integrou a bancada dos trabalhadores ao lado de dirigentes da Conaccovest e da IndustriALL-Brasil, organização que reúne os setores têxtil/vestuário, metalúrgico, químico, construção civil, energia e alimentação da CUT e da Força Sindical, centrais que ao todo representam cerca de 10 milhões de trabalhadores no país.
“Construímos uma grande pauta conjunta numa mesa bipartite, com representações dos trabalhadores e empresas, mas o debate sobre a política industrial nos setores de calçados e confecções precisa ser feito numa mesa tripartite, com a presença do governo federal”, explicou Cida Trajano, presidenta da CNTRV.
Sete eixos temáticos
De acordo com a dirigente, a construção dessa pauta unificada do setor tem como base documento elaborado em julho deste ano durante o seminário “Política industrial e transição justa na construção de políticas públicas”, realizado pela IndustriALL-Brasil, IndustriALL Global Union e Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com apoio do SASK (Centro de Solidariedade Sindical da Finlândia).
No documento, os representantes dos trabalhadores definiram sete eixos temáticos que devem orientar os debates para subsidiar a formulação de políticas públicas para o setor. Veja abaixo os sete eixos:
1) Valorização dos trabalhadores/as: emprego e renda de qualidade em toda a cadeia produtiva
2) Redução da informalidade e outras formas de contratação precárias
3) Redução das desigualdades (gênero, raça e juventude)
4) Incentivo à formação/qualificação profissional
5) Pesquisa, desenvolvimento e inovação
6) Política fiscal e financiamento público
7) Fortalecimento das políticas para aglomerados de empresas.
Cida Trajano também destacou a importância de se manter diálogo com entidades patronais como ABVETEX e Abicalçados sobre a construção de uma mesa de diálogo mais permanente para debate de ações sobre transição justa na política industrial do setor de calçados e confecções.
Debate para o futuro
Para Aroaldo Oliveira da Silva, presidente da IndustriALL-Brasil, tanto a reunião do último dia 17/10 quanto o seminário de julho são resultado do esforço conjunto das duas confederações (CNTRV e Conaccovest) e das duas principais centrais sindicais do Brasil (CUT e FS) em debater e organizar de forma unificada a visão dos trabalhadores sobre o que acontece no setor.
“Questões como precarização, quarteirização, entre outras, estão no centro do debate sobre o processo que a indústria têxtil vem vivenciando desde a abertura econômica dos anos 90. E essas questões são algumas das que vêm contribuindo com a degradação dessa indústria durante os últimos anos”, diz Aroaldo Oliveira.
Mesmo diante desse processo, o chamado “Complexo da Moda” ainda mantém posição de destaque na economia nacional, ocupando o segundo posto na lista de maiores empregadores do Brasil, com cerca de 2,4 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, formais e informais.
Segundo o presidente da IndustriALL-Brasil, além de apresentar as demandas dos trabalhadores, esses encontros são ações importantes no sentido de se construir uma agenda para pensar e debater, de forma ampla, o futuro dessa indústria no Brasil.
“A Abit diz que tem feito debates com o governo federal, mas em nenhum deles os trabalhadores foram envolvidos. A importância dessa reunião e do seminário foi que os trabalhadores se colocaram como protagonistas nessa agenda”, completa Aroaldo.
A IndustriALL-Brasil foi fundada em 2020 com o objetivo de defender os direitos trabalhistas e sociais e lutar pela reindustrialização do país. A entidade foi inspirada na IndustriALL Global Union, organização não-governamental que reúne 51 milhões de trabalhadores e trabalhadoras da indústria no mundo todo.