Enfrentar a crescente importação de peças de vestuário fabricadas com mão de obra barata é um dos principais desafios da indústria têxtil e de confecção, na avaliação de participantes de audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio sobre a desindustrialização do segmento no Brasil.
Foram convidados para a audiência pública: Departamento de Indústrias Intensivas em Mão de Obra do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC; Superintendência Regional da Receita Federal do Brasil da Primeira Região Fiscal – RF; Federação Nacional das Indústrias do Estado do Espírito Santo – FINDES; Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria – CNTI; Superintendência da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção – ABIT; Associação Brasileira do Vestuário – ABRAVEST; Central Única dos Trabalhadores – CUT; Sindicato dos Têxteis de São Paulo e do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de São Paulo, Caieiras e Mairiporã (representando a Força Sindical) e União Geral dos Trabalhadores – UGT.
A presidenta da CNTV, Cida Trajano, participou da atividade representando a Central Única dos Trabalhadores.
De acordo com a Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), as importações de vestuário subiram 23 vezes entre 2003 e 2013, saindo de 100 milhões de dólares para 2,37 bilhões de dólares. “Estamos enfrentando a China, Índia, Bangladesh e Peru. Nenhum trabalhador nosso queria trabalhar lá, mas não olhamos a etiqueta ao comprar esses produtos”, disse o diretor superintende da Abit, Fernando Pimentel.
De acordo com o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados, José Ricardo Leite, o setor precisa urgentemente de ajuda. O setor tem capacidade superior de empregar mão de obra do que em outros segmentos, segundo pesquisa da Abit. Um incremento de R$ 10 milhões no faturamento do setor têxtil é capaz de criar 1.382 postos de trabalho, 170 a mais que o setor de alimentos, o segundo colocado pela pesquisa.
“Para fazer concorrência com produtos importados estamos fazendo excesso de jornada de trabalho, para não aumentar os custos com novas contratações”, afirmou Leite.
O presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, deputado Augusto Coutinho (SDD-PE), que solicitou o debate alertou que “o governo dá um subsídio grande para o setor automobilístico quando o têxtil emprega o triplo da mão de obra”.
Para o secretário executivo da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Carlos Augusto Dittrich, a principal dificuldade de competitividade com as empresas asiáticas é a mão de obra barata.
Quarto lugar
O Brasil é o quarto maior produtor mundial em vestuário, com 2,6% do total. Muito distante da China, que lidera o segumento com 47,2% do total, seguido por Índia (7,1%) e Paquistão (3,1%). O vestuário representa quase 5% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de transformação e mais de 10% dos empregos nesta atividade econômica, de acordo com a Abit. O faturamento anual está em 56 bilhões de dólares.
No entanto, indústria de vestuário teve queda significativa no volume de produção nos últimos meses, segundo o Sindivestuário (que reúne as entidades industriais de roupas e confecções). Apenas no período de janeiro a outubro de 2013 o setor teve retração de 10,63%, declínio atribuído ao aumento da entrada de importados no País.
Reportagem – Tiago Miranda/ Edição – Rachel Librelon (Agência Câmara de Notícias)