O Seminário Macrossetor da Indústria do RS foi realizado nos dias 17 e 18 de setembro, no auditório da Federação da Alimentação do RS e reuniu dezenas de dirigentes sindicais que debateram a estratégia de organização do macrossetor.
O evento, promovido pela CUT-RS juntamente com as Confederações teve como objetivo avançar na construção de políticas para o segmento da indústria em âmbito nacional e local, além de sensibilizar a base sindical para a importância de tornar os trabalhadores protagonistas na definição da política industrial no país.
A história e estratégia da CUT no macrossetor da indústria foram apresentadas pelo secretário geral da CUT Nacional, Sérgio Nobre, e coordenadores do macrossetor. Para Nobre, este Seminário deve fortalecer a unidade para garantir conquistas e ampliar avanços que melhorem as condições de vida e trabalho para os trabalhadores do Rio Grande do Sul e do Brasil. “Debater a indústria é pensar no futuro do país”, acredita o dirigente.
Antecendo os debates sobre a indústria, foi realizada uma análise de conjuntura pelo integrante da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), Paulo Vannuchi. Ele abordou o papel da CUT no cenário atual do país, que começou a fazer grandes mudanças com conjunturas estáveis e outras, momentâneas, como as mobilizações de junho. Para Vannuchi, agora é hora de aprofundar as mudanças e ao mesmo tempo buscar um futuro com mais transformação social.
Panorama da indústria
O retrato da indústria nacional e estadual foi apresentado pelo técnico da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Martinho Lazzari, que trouxe dados das principais atividades, crescimento da produção e exportações da indústria no RS.
“Alguns setores crescem em cima da produtividade e não do emprego. Por isso, há elevação no índice da produção mesmo com o aumento do desemprego”, explicou. Lazzari disse ainda que os setores que dependem do mercado interno estão melhores que os ligados ao mercado internacional.
Já o assessor técnico do DIEESE no RS, Ricardo Franzoi, apresentou informações dos quatro macrossetores no período de 2007 até 2011. “O ganho real nas convenções coletivas de trabalho estão numa crescente. Este ano, a média de aumento real foi de 2,5%”, afirmou.
Franzoi destacou ainda que possivelmente, o PIB (Produto Interno Bruto) do Estado ficará três vezes maior do que o nacional. “Temos que tirar proveito desta situação, pois as empresas chegam, ganham dinheiro e vão embora, precisamos agregar renda ao local”, finalizou.
Por fim o assessor técnico do DIEESE, Rafael Serao, explicou que política industrial é um conjunto de medidas que fornece condições para desenvolver o setor. As políticas industriais desde a década de 30 foram resgatadas pelo assessor e, com isso, foi possível identificar os antecedentes do Plano Brasil Maior. “Este Plano é um programa de desenvolvimento produtivo que visa o crescimento e o fortalecimento, interno e externo, da indústria brasileira”, esclareceu.
Serao chamou a atenção e afirmou que os trabalhadores só tiveram participação na criação das políticas industriais com o inicio do governo Lula: “E temos sempre que nos questionar como está a participação dos trabalhadores".
Confederações do Macrossetor da Indústria
No Seminário, os representantes das confederações dos metalúrgicos, dos químicos e dos trabalhdores do setor do vestuário e da alimentação apresentaram o perfil, as estratégias e as políticas dos segmentos. Confira abaixo:
Vestuário
A presidente da CNTV-CUT, Cida Trajano, apresentou a estrutura da cadeia produtiva, o destino das exportações e o impacto das importações para o setor.
No Brasil, as mulheres compõem 69% da categoria, 54% dos trabalhadores exercem uma jornada de 40 a 44 horas de trabalho e 28% laboram 45 horas ou mais. “Esse alto número se deve às horas extras e ao banco de horas, que é ilegal, pois não consta nas nossas convenções coletivas”, salientou ela.
A renda média do trabalhador do vestuário é de R$ 811,00. Outro dado divulgado pela dirigente é a alta ocorrência de trabalho análogo à escravidão identificado no segmento. “Infelizmente, sofremos muito com o neoliberalismo e as terceirizações. Hoje em dia, as grandes marcas sobrevivem às custas do trabalho escravo”, informou.
Finalizando, Cida apresentou os desafios e as prioridades do ramo no macrossetor.
Alimentação
Com 140 mil trabalhadores no RS, a alimentação é o principal setor da economia gaúcha, conforme explicou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, Agroindústria, Cooperativas de Cereais e Assalariados Rurais (Contac), Siderlei de Oliveira.
“O principal problema do nosso segmento são as doenças do trabalho que ele ocasiona. Além de ser um setor que migra, as empresas vão onde estão os grãos, empregam até deixar os trabalhadores doentes, então vão para outra localidade”, relatou.
O Brasil é uma grande referência neste segmento, pois é o maior produtor de soja do mundo, assim como de açúcar e suco de laranja. Além de ser o maior exportador de carne. “E ainda temos uma grande potência para ser explorada, que é a nossa costa marítima, o setor da pescaria”, afirmou.
Para ele, atualmente, a discussão do macrossetor é o principal debate dentro da CUT: “É muito importante a realização desse evento, para discutirmos o setor como um todo".
Químico
O setor emprega cerca de um milhão e trezentos mil trabalhadores em todo o Brasil, no RS há mais de 73 mil empregados nos diversos segmentos do ramo. “Correspondemos a 18% do PIB brasileiro”, disse a presidenta da CNQ-CUT (Confederação Nacional do Ramo Químico), Lucineide Varjão Soares.
De acordo com ela, os principais desafios do setor é o fortalecimento das secretarias regionais e a ampliação da capilaridade: “Também é fundamental desenvolver políticas nas áreas de gênero, juventude e saúde do trabalhador”.
A dirigente também identificou os sindicatos gaúchos filiados à CNRQ e a inserção da entidade em todo o Brasil.
Metalúrgico
O secretário-geral e de relações internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), João Cayres, apresentou o que a entidade tem feito para fortalecer o setor.
Com dois milhões e meio de metalúrgicos no país, Cayres disse que o setor naval cresceu muito nos últimos anos: “Isso ajuda a fortalecer o nosso ramo”.
O dirigente também relatou a participação dos diretores da CNM nos Grupos de Trabalho do Plano Brasil Maior, que tem como objetivo construir políticas públicas para a indústria nacional.