Assédios moral e sexual nos locais de trabalho e salário menor que o dos homens foram os principais assuntos abordados pelas trabalhadoras calçadistas numa “roda de conversa” realizada na sede do Sindicato, no último sábado, 25. Cerca de 30 mulheres trocaram experiências sobre situações comuns nas fábricas de calçados de Jaú e definiram algumas propostas para que o Sindicato atue no combate à violência e à desigualdade de gênero no setor.
O evento integrou as atividades de um projeto nacional denominado “Promover os Direitos Humanos e Fortalecer a Ação Sindical e o Combate à Violência de Gênero no Ramo Vestuário do Brasil”, que é desenvolvido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Vestuário da CUT, CNTRV, e pelo Solidarity Center, entidade ligada a uma das maiores organizações sindicais norte-americanas, a AFL-CIO.
O projeto conta com ainda com o apoio do Instituo C&A e também do Instituto Observatório Social. “Apesar de não estarmos integrados oficialmente ao projeto, consideramos o debate extremamente oportuno e ele dialoga diretamente com a realidade das trabalhadoras calçadistas de Jaú. Por esta razão, estamos desenvolvendo as rodas de conversa de acordo com a metodologia do projeto”, destacou Miro Jacintho, presidente do Sindicato dos Calçadistas de Jaú.
Mulheres são metade da categoria calçadista
Uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, DIEESE, apontou que 49,9% da categoria calçadista é formada por mulheres, sendo que cerca de 40% delas têm idade entre 18 e 29 anos.
Apesar de formar metade da mão-de-obra calçadista, as mulheres ganham os piores salários. Enquanto a média salarial de um homem calçadista é de R$ 1.747,98, da mulher é de apenas R$ 1.397,54, cerca de 20% a menos.
Para o Sindicato, embora a convenção coletiva não permita diferença de salário entre homens e mulheres na mesma função, a situação é fruto do preconceito. “A Convenção Coletiva impõe um piso salarial, a partir disso, as empresas agem com total preconceito para pagar mais aos homens e fazem isso estabelecendo a eles os melhores cargos, incluindo, enquanto as mulheres são submetidas aos cargos e salários inferiores. É puro machismo”, denunciou Jacintho.
Cida Trajano, que preside a CNTRV, chama a atenção para a ilegalidade praticada pelas empresas e para a importância da ação sindical. “Tentam impor a nós, mulheres, que salário menor ao dos homens é uma coisa normal, mas não é. Existem leis nacionais e internacionais que estabelecem as mesmas condições salariais e igualdade de oportunidade entre homens e mulheres, mas, na prática, a realidade é bem diferente. Nosso papel é lutar contra essa injustiça nos locais de trabalho. Neste sentido, a negociação coletiva, feita pelo Sindicato, é o um ponto fundamental”, afirma a sindicalista que compareceu na atividade.